Assembleia da República encoraja liderança da RENAMO a dialogar com a auto-proclamada Junta Militar de antigos guerrilheiros dissidentes. Mas Junta Militar recusa contato com maior partido da oposição moçambicana.



Mariano Nhongo, líder da auto-proclamada Junta Militar da RENAMO.



Através da Comissão de Defesa e Segurança, a Assembleia da República de Moçambique encorajou a liderança da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) a persistir nos contactos com a auto-proclamada Junta Militar, composta por antigos guerrilheiros dissidentes desse partido. 

O objetivo é convencê-los a deporem as armas e fazerem parte do processo de desarmamento, desmobilização e reintegração (DDR) em curso. Entretanto, a Junta Militar recusa-se a manter qualquer contacto com o maior partido da oposição, a RENAMO.

A comissão parlamentar de Defesa e Segurança, liderada pela deputada Diolinda Chochoma, constatou na última sexta-feira (28.08) que as Forças de Defesa e Segurança (FDS) - no terreno para garantir a segurança das comunidades na província central de Sofala - continuam implacáveis contra os inimigos da paz.

Contudo reconhece ser difícil combater a auto-proclamada Junta Militar da RENAMO porque os seus membros estão inseridos nas comunidades.

Segurança

Mosambik Sofala | Präsident von RENAMO | Ossufo Momade (DW/A. Sebastião)

Ossufo Momade, líder da RENAMO

Segundo Diolinda Chochoma, "a segurança na província de Sofala está calma na medida em que há circulação de pessoas e bens". No entanto, ela reconhece que "existem realmente esses ataques da dita Junta Militar da RENAMO", embora "o trabalho esteja a andar, com as Forças de Defesa e Segurança a trabalhar".

"Como disse, estão com uma força e cientes de que o nosso povo não pode viver na insegurança", explica Chochoma.

A parlamentar considera que a única solução para pôr o fim à instabilidade nas províncias de Sofala e Manica é incluir os desertores da RENAMO no processo do Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) dos antigos guerrilheiros do partido. Além disso, a seu ver, esta missão cabe apenas à liderança do maior partido da oposição moçambicana. 

"Apelar à liderança da RENAMO para continuar com a sensibilização. Estão a sensibilizar mas [é preciso] continuarem com a sensibilização e mobilização para aqueles poucos, ou muitos, que ficaram com Nhongo. E que venham juntar-se àqueles que estão à espera do DDR, a acontecer, e que muitos estão a fluir", explicou.

Por sua vez, Ossufo Momade, presidente do maior partido da oposição, a RENAMO, já declarou em público que não há espaço para negociação com o grupo liderado por Mariano Nhongo e recomenda o regresso voluntário do antigo general e o grupo por si liderado.

"Recusa de qualquer aproximação"

Em entrevista à DW África Mariano Nhongo, líder da auto-proclamada Junta Militar da RENAMO, também recusa qualquer aproximação com Ossufo Momade. Nhongo acusa-o ainda de ser traidor e extende a acusação a André Majibiri, secretário-geral do partido. 

 
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Moçambique: "Não temos mais paciência de ir pedir favor aos traidores", diz Nhongo

"Não temos mais 'paciência em ir pedir paciência' [favor] aos traidores, porque ninguém da Junta Militar da RENAMO vai ter com o Majibiri. Alguma vez ele disparou [uma] arma?", questionou Nhongo, acrescentando: "Nós conhecemos a ele [Majibiri], recusamo-lo quando era jovem, em 1989". 

"Ossufo saiu da FRELIMO, foi capturado. Os dois combinaram para destruir a RENAMO. Mas a RENAMO não é destruída. Não temos mais tempo para nos ajoelhar [diante do] camarada, em frente à FRELIMO [...] Ajoelhar, pedir favor para quê? Nós vamos bater a FRELIMO até levar todas armas", acrescentou o líder da Junta Militar.

Enquanto continuam as trocas de acusações entre entre o Governo da FRELIMO, a Junta Militar e a RENAMO, prosseguem os raptos, assassinatos e ataques armados nas províncias de Sofala e Manica.

No último domingo (30.8) foi registado um ataque armado contra um autocarro, que culminou no ferimento de dois passageiros. O incidente ocorreu na zona limítrofe entre Chibabava e Machanga, no sul da província de Sofala, antigo palco de confrontos militares entre os anos de 2013-2017.